16.3.07
Os meninos do leblon nunca olharam pra mim. Eu sempre usei óculos. Desde que me lembro. Desde o dia em que coloquei os óculos recém-feitos nos bolsos da jaqueta do tazmania trazida da disney e fechei a porta do carro charmosamente com as ancas. E os óculos recém-feitos se quebraram. E mandei faze-los novamente.
E depois a armação de titânio, bem grossa, fria, e bem oval. Estranha.
E depois as lentes de contato que não deram certo porque eu era alérgica e vivia perdendo as lentes. E vejam vocês, mal consigo passar batom sem olhar no espelho, que dirá lidar com lentes de contato.
E aí vieram os óculos de formato adequado, indefinidos, quase quadrados quase de gatinha quase redondos que usei por tanto tempo que já considerava parte importante do rosto. Sem ele, eu não me via, e eu não era tão eu.
Até o dia da dor de cabeça. Tão forte que pensei: é meningite, um avc ou aneurisma. Nem pensei nos olhos, já que não era mais míope, era alguém com óculos.
E a dor de cabeça me impediu de pensar, de viver e de raciocinar, o que de resto já não faço bem no resto do tempo.
Aí numa manhã, acompanhada do sr. papai, fiz o exame de vista mais minucioso da história, e passei um tempo indizível, talvez toda a minha vida, dizendo que não conseguia enxergar qualquer coisa no papel cheio de letras E em várias direções que decifrei depois.
Mas isso nem foi o pior.
O pior foi a hora e meia que passei a escolher a nova armação. Foi quando me dei conta que havia passado os últimos seis anos com os mesmos óculos, com aquele mesmo rosto congelado e emoldurado em cinza escuro.
O que fazer?
As novas armações seguram lentes mais potentes, são chics, claras, cinzas, de acrílico, grandes e quadradas. Já têm duas semanas, e algumas pessoas nem chegaram a notar nenhuma mudança.
Eu ainda acordo, coloco os óculos e não tenho certeza que eu sou eu. E o pior: se essa pessoa nãoeu é mais bonita ou mais feia que a eueu.
