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16.7.08

O Cortiço 

Não, não se trata de Aluísio Azevedo e suas mulatas Ritas rebolativas, nem de caboclos enfezados com peixeiras na mão. Mas poderia.
Senhorita K. mora num dos mais modernos cortiços da classe média candanga. Recheado com dez prédios de quitinetes e infinitos apartamentinhos minúsculos, o lugar não teve morte. Ainda. Tempos atrás, o condomínio foi acordado por volta das cinco da manhã por uma briga de casal dessas de novela. Gritos, choros, portas batidas, escândalos e tudo o mais. A cena foi tão divertida que, no dia seguinte, um dos pivôs da discussão pregou um papel nos elevadores pedindo desculpas pelo ocorrido.
Mas é na janela que se desenrolam as situações mais animadas do condomínio. Uma vizinha, por exemplo, adora trocar a blusa na janela. Aberta. Senhorita K. viu um dia, desviou o olhar. Outro dia, a moça resolveu fazer de novo. Tirou a blusa. Mas decidiu tomar banho. Entrou no chuveiro – sem cortina ou box, uma pobreza, e lá estava lavando a cabeça. Quando, de repente, o namorado entra junto para tomar banho! Sexo no chuveiro com a janela aberta... Poderia ser melhor?
Ah, poderia. Outro dia, Senhorita K. estava à janela observando seu fat naked guy do prédio da frente. O moço passa dias e noites vendo tevê só de cuecas ou mesmo sem elas. Até aí, nada demais, o moço gosta de ar na barriga.
Mas eis que numa noite Senhorita K. flagra o moço acariciando as partes íntimas com a janela completamente aberta! Sim. Batendo uma. Dias depois, o moço estava de roupão, no sofá. Tomando vinho. E acariciando um outro moço.
Senhorita K. pensa: quem precisa de canal pornô na sky quando tem isso? Não que ela sinta alguma felicidade no fat naked guy, mas ri que nem nos filmes de Emanuelle.
Mas a verdadeira indignidade do condomínio nem são as brigas, nem as cenas de sexo, nem o voyeurismo de Senhorita K. A verdadeira indignidade é morar num condomínio de apartamentos microscópicos e não colocar sequer uma cortina simpática à vista. Senhorita K., por exemplo, tem persianas pretas para esconder a luz e acalmar a alergia. Mas nunca teria um cobertor xadrez feio tampando a luz do dia e enfeiando não o apartamento, mas também a vida dos vizinhos que só têm um cômodo para viver. Dignidade, tok stok e bom gosto são tudo na vida.

postado por antonina kowalski às 12:23

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