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11.12.07

Tortura 

As pessoas têm muitas fobias. E muitas manias. Um ex-chefe sempre deixa o papel higiênico no picotado, e ai de quem usar o neve e cortar o papel pela metade. Senhorita K. tem uma fobia/mania (dentre algumas outras). Ela tem problemas com banheiros. O maior problema é não conseguir morar numa casa em que o banheiro pareça já ter sido usado.
Isso é um grande problema, já que as casas novíssimas são bem caras e reformas de banheiro sempre estiveram fora do orçamento. Para piorar, Senhorita K. acredita que todo banheiro deveria ser todo ou majoritariamente branco, o que faz as louças escuras parecerem sujas, velhas e feias. A louça da mãe de Senhorita K. é marrom.
No que implica problemas com banheiros? Em banhos mais rápidos, xixis apressados e outras coisas, Jesus, raras e psicologicamente torturantes.
O problema é tão sério que fez Senhorita K. demorar dois meses a encontrar um apartamento com banheiro minimamente utilizável para alugar quando fingiu morar em São Paulo.
E os shoppings?
Os shoppings podem ser divididos entre os bons e os maus banheiros. Entre os bons, o melhor é o banheiro perto da Fnac do Park Shopping. Vazio, lindo, cheiroso e com papéis em profusão para Senhorita K. sair lá de dentro toda higiênica e com mãos sequinhas, que mãos molhadas parecem coisa de gente porca.
O pior, o do Conjunto Nacional. Além de todos os problemas de higiene, as pessoas que fizeram o lugar tiveram idéia esquisita, pra dizer o mínimo, de fazer portas translúcidas.
Isso significa que as pessoas podem ver o VULTO de Senhorita K. enquanto ela faz xixi.
Como assim?
Cadê a privacidade, ela que desde os três só usa o banheiro de portas fechadas e discorda completamente da tese de compartilhamento de intimidades dos casais modernosos que inclui o banheiro na lista?
Cadê a tranqüilidade e a leveza do banheiro?
Não existe, não existe mais.
Senhorita K. tem a impressão de que irá começar a sofrer, em breve, de prisão de ventre e pedra nos rins. Ir ao banheiro está uma tortura.

postado por antonina kowalski às 11:09
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5.12.07

Alice doesn't belong here anymore 

Senhorita K. nunca foi uma pessoa muito sociável. Nunca puxei grandes papos na fila do banco, na manicura, no banheiro público, no cinema do shopping, na mesa do almoço.
Mas ela sempre soube quando pertencia ou não aos lugares.
A discrição e o silêncio lhe deram boa capacidade de observar.
Assim como a cara mal humorada que afastava curiosos.
Ela sabia que não pertencia aos lugares quando todos saiam para almoçar sem sequer lhe terem dado a chance de ter recusado o convite, nunca feito.
Ou quando era a única não convidada a escrever.
Ou quando ele não retornava o carinho.
Senhorita K. sabia que não pertencia a um lugar quando o silêncio reinava quando ela entrava.
Dia desses, Senhorita K. percebeu que existem muitas situações e lugares aos quais ela não pertence.
Como ao shopping que tem na vitrine o vestido de mil e cem reais, que ela teve que voltar duas vezes para conferir o preço e, sim, era aquele mesmo.

postado por antonina kowalski às 16:40
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