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10.11.06

Constatações infelizes 3 

Ir ao shopping pode ser uma atividade tão perigosa quanto se olhar no espelho. Subitamente, num passeio rápido, você pode perceber que está à margem. Completamente à margem.
Andando no piso das lojas mais chics, você percebe que está à margem da moda: sua calça tem cinco anos e foi comprada em loja de departamentos; sua blusa até que é de loja de grife, mas saiu da liqüidação de uns cinco anos atrás. De tendência, você tem zero. Absolutamente fora de moda.
O olhar translúcido que as outras pessoas te devotam na caminhada deixam bem claro que você também está à margem da beleza. Não chama atenção, não se destaca. É só mais um rostinho razoavelmente cuidado na multidão. E ainda tem uma espinha na ponta do nariz.
Na livraria, os títulos dos livros e os autores dos livros te lembram que você também ficou de fora da genialidade. Comum, comum, sua inteligência é suficiente para passar no vestibular, mas ninguém vive de passar em vestibular, afinal de contas.
Você está à margem, e entra em desespero porque seus óculos de sol quebraram mas você não tem dinheiro para comprar novos. Na verdade, você tem cinco reais no banco. Você também não pode trocar os óculos de grau, descascados. Nem comprar um novo monitor pra assistir melhor aos seriados (porque você não tem mais tevê a cabo).
À margem do consumo, mesmo diante das queimas de calçados.
Pelo menos você ainda tem carro, sem gasolina, e não precisa pisar na poça pra entrar no shopping. Você foi ao shopping com seu pai. Encontrar sua mãe. Disfarçar a cara de choro naqueles momentos em que as pequenas coisas subitamente parecem nada diante da distância em que você vive daquele mundo de vitrines e manequins.
À margem da felicidade.
O amor é cheio de condições, e você pode ser abandonado a qualquer momento, como você já abandonou, e nem pode gritar por isso. Os amigos trabalham, o irmão estuda. Você só quer voltar pra casa, porque em casa você não está à margem de nada.
Em casa é o seu mundo, seu mundo branco, preto e vermelho.
Em casa você está sozinha e ninguém te faz sentir pena de si mesma. Porque você já não abre a internet, nem lê sobre os bem-sucedidos.
...
E você já nem é criança para ter sonhos a realizar. Toda uma vida de marginalidade te espera. Bem vindo ao fim do dia.

postado por antonina kowalski às 11:13

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