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13.11.06

Visita à livraria 

Senhorita K. percorre sem muito interesse as gôndolas empoeiradas da livraria decadente. Não é daquela que gosta mais. Está ali a passeio, por distração. Por isso, faz-se necessário esclarecer antes quais os motivos que tornam aquela livraria em especial uma livraria sem especiais para ela, ela que tanto gosta de livros e livrarias.
Ela tem apenas um critério para julgar a qualidade de uma livraria: não é o preço dos livros, ainda que promoções a atraiam; não é o oportuno distanciamento dos vendedores, embora atendentes atenciosos a enervem; não é a organização do estabelecimento, ainda que livros fora do lugar sejam devolvidos delicadamente às suas estantes por ela.
O critério da senhorita é bem simples: tanto melhor uma livraria quanto mais o estabelecimento a faz ficar deprimida.
Explica-se: quanto maior a quantidade e a qualidade dos livros expostos, quanto mais novidades e raridades pelas quais senhorita obviamente não pode ou tampouco poderá pagar num futuro próximo (daí a tristeza incontrolável) melhor o lugar.
Existem inúmeras livrarias assim. Aquela, contudo, era apenas o local destinado a preencher os 15 minutos necessários para que se pague por duas horas de estacionamento. Um lugar de passagem.
Mesmo com essa consciência presente assim que ultrapassou a porta de vidro, senhorita dedicou um bom exame a cada prato das ofertas literárias da livraria. Atenciosamente, reconheceu ou ignorou os lançamentos nem tão últimos assim e até folheou alguns. Lembra-se, inclusive, de ter devolvido, aliviada, dois livros a seus lugares de origem.
Mas senhorita, boa aprendiz que é, nunca desperdiça uma oportunidade de expandir conhecimentos. Certa feita, passou horas se deliciando com títulos franceses para os luminares da filosofia. Outro dia, mesmo, folheou divertida toda a bibliografia de Ruth Rocha.
Essa visita a livraria teria efeito mais analítico, porém. Senhorita foi dar uma espiada inocente nas ofertas de auto-ajuda. Senhorita sempre gostou de títulos.
De títulos de livros e flores.
Por isso, qual não foi sua surpresa ao perceber que os livros de auto-ajuda são divididos por flores.
Sim. Senhorita, Mrs. Dalloway e os capistas dos livros de auto-ajuda adoram flores.
Senhorita e os capistas, ainda mais coincidentemente, adoram tulipas.
Seis em cada dez capas de livros de auto-ajuda trazem uma ou várias tulipas na capa. São os livros mais femininos, de temáticas mais etéreas. A segunda divisão abrange o tema alegria, e as capas explodem em margaridas ou girassóis hiperbólicos.
Singelo, não? Será um sinal de que Senhorita deveria agarrar o primeiro exemplar apinhado de tulipas (e barato) que lhe cair pelas mãos que tudo vai mudar? Será um sinal do gosto clichê de Senhorita? Será uma coincidência? Muitas questões, meus caros.

postado por antonina kowalski às 18:33

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