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18.1.07

Os caramujos normais 

A normalidade invertida da minha vida parece ter se acomodado de tal maneira que, a cada dia, sou brindada com novas descobertas e situações às quais não tenho muita alternativa a não ser me conformar ou sair correndo gritando. A manhã da quarta-feira, por exemplo, parecia um dia promissor. Dormi na casa de mamãe, brinquei com irmão e, ao acordar, fui tomar leite com nescau diante de um de meus passatempos preferidos, como já disse aqui.
Olhar os caramujos.
Sim, o caramujo-pai morreu. E mamãe comprou dois novos, ao módico custo de dois reais, para alegrar o aquário multicor lá de casa.
Uns bibelôs.
Um deles, singelo, estava grudado no vidro, bem no alto. Quieto.
O outro, do lado oposto do aquário, estava também quieto, sobre as pedras. Ou assim eu pensei. Quando, insidioso, o caramujo saiu de cima de onde estava, vi que não era sobre as pedrinhas que ele estava, mas sobre o cadáver, ou o resto de um, do peixinho dourado que o aquário tinha. Àquela altura do banquete fastidioso, sobravam apenas os frágeis ossos da cabeça e aquela espinha que nem engasgo provocaria. De lado, o caramujo não deixou a presa. Passou a tatear com sua membrana cor de bege em busca de algum restolho de carne de peixe de aquário. Procurou, procurou. Não tinha muito mais, nem olhos nem escamas.
Não me lembro muito do peixe. Pelos restos douradinhos, descobri a cor. Mas não sei bem qual deles era. Não importa.
O que importa é o comportamento tão antinatural do caramujo, um caramujo que deveria ser, segundo as leis naturais da natureza, vegetariano. Um caramujo que não deveria comer peixes mortos no aquário.
Mas, no final das contas, o que é o dever ser?
Um dia, me chamaram de caramujo. Eu gostei. Gostei muito. Tanta leveza, sutileza, toda aquela paixão de alimentar-se da ração, tanto vagar, tanta paciência. Talvez, afinal, eu não seja um caramujo. Pelo menos não desses que comem carcaças de peixes. Um caramujo, talvez do tipo que flutue encaramujado pela água. Lindamente.

postado por antonina kowalski às 19:01

2dizem por aí:

At 25/1/07 03:29, Blogger Tripé de coleira disse...

caramujos soltam uma gosminha...

 
At 30/1/07 04:00, Anonymous Anônimo disse...

Pois é, a não ser que seja num poema do Manoel de Barros, é impossível simpatizar com caramujos. Se bem que vc quase conseguiu me fazer essa proeza... mas na parte que ele se esbalda no esqueletinho do peixe eu perdi toda a ponta de simpatia que estava desenvolvendo, haha

 

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