<$BlogRSDUrl$>

space

7.2.07

Hoje eu tomei capuccino 

Eu sou uma pessoa dessas ditas radicais. Não consigo ver muitos tons de cinza, o que é uma pena, porque brancopreto cansam, às vezes. Hoje me dei conta que sou radical, também, nos meus meios termos. Não gosto muito, por exemplo, de quente. Nem de frio. Eu gosto de morno. E isso explica por que sempre demoro a tomar o capuccino grande pra viagem que peço na lanchonete da Câmara. Explica por que sempre deixo esfriar tempo bastante o chá mate. Explica por que não gosto muito de gelo na cocacola.
Mas explica também, e isso é uma novidade, por que eu não gosto de café. Por que eu não gosto de sorvete.
Nunca gostei de café. Nem de sorvete. Na verdade, se for puxar bem da memória, café e sorvete foram duas coisas incorporadas tardiamente à minha vida. Nunca freqüentaram minha infância, como suspiro, cocada, leite, cocacola, caldo de feijão preto, brigadeiro, gelatina.
Conheci sorvete aos doze, treze anos, já morando em Brasília há muito tempo. Quando provei, não gostei. Achei estranho. Ia às sorveterias com as amigas e enchia o potinho com leite condensado, waffles, cobertura de chocolate e bananas.
Sorvete era bem ruim.
Café eu conheci um pouco antes. Minha mãe tomava e fumava junto. Mas eu, mesma, nunca tinha tomado. Lá pelos nove, dez anos, a avó colocou café no leite, em vez do nescau. Adorei. Mas quando fui tomar o dito puro, alguns anos depois, foi horrível.
Café era bem ruim.
Da primeira vez de um, doeram os dentes. Da primeira vez do outro, queimei a língua.
Da segunda vez que tentei tomar sorvete, esperei derreter e ficar na temperatura ambiente. Detestei. Da segunda vez que tentei tomar café, esperei ficar na temperatura ambiente. Detestei. Nunca soube não tomar café e queimar a língua.
Nem por isso deixo de amar o cheiro de café, especialmente o mais quentinho. Fico com vontade de tomar. Mas café frio é uma heresia.
Sorvete, amo visualmente. Adoro ver sorvetes bonitos, coloridos, misturados. Mas derretidos e não gelados são, também, uma heresia.
Assim, me contento com os mornos meios termos que me cabem e que acomodam minha incapacidade de experienciar devidamente o radical do frio e do quente.
Na verdade, eu sempre achei que deveria ter nascido sob o clima mais morno e meiotermo do mundo, o mediterrâneo. De preferência, numa ilha grega.
Tudo faz parte do mesmo radicalismo. A opção pelo meio termo. Espero acolher outros meiostermos daqui por diante.
***
Sim, hoje eu tomei capuccino. Quente. Queimei a língua.

postado por antonina kowalski às 16:48

0dizem por aí:

Postar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?