<$BlogRSDUrl$>

space

11.8.07

O pente da vó 

A mãe de minha mãe, a vó Odete, era uma mulher sensacional. Teve catorze filhos, criou doze, enterrou dois, enterrou o marido, ficou muito doente e só foi salva com macumba, adorava feiras, fazia doces como ninguém. Era graças a ela que cada visita minha ao Rio era recheada, já na primeira noite, de cocadas feitas artesanalmente, envolvendo toda a família no ritual de rala coco, mexe coco, bota pra ferver, assa, corta e come. Foi graças a ela que comi perna de rã com cinco anos.
Minha vó era uma pessoa sensacional. Não sabia ler. Assinava só o nome. Quando foi me deixar no aeroporto de volta a Brasília depois das férias em que fiquei mocinha e dei um beijo, me pediu ajuda pra assinar o formulário, benzeu minha testa e coçou minha cabeça como eu fosse um macaquinho deliciado. Deliciada, claro, eu estava.
Hoje estava ouvindo um cd que de samba que tem coro de senhoras do morro carioca cantando “laralaiá laralaiá” nas músicas.
E lembrei de minha vó.
Porque a entonação das senhorinhas do coro era igual à entonação de voz da minha vó quando gritava kariiiina, com aquele jeito carioca, ou quando era carinhosa dizendo kakáááááááááá.
Ou quando ia a feira e dizia que meerrrrrrrrda, do tomate feio, ou quando xingava a gente, e ela xingava a gente e muita gente.
O coro de senhorinhas tinha jeito de coro de vó carioca.
Não fiquei com aquela saudade triste da vó. Ela morreu quando o corpo e a mente cansaram. Aproveitei bem a vó, enquanto tive.
Só sinto falta de andar atrás dela na feira, porque ela gostava de comprar verduras com o pente espetado no meio do cabelo.

postado por antonina kowalski às 17:01

0dizem por aí:

Postar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?