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29.1.08

O despertador chato 

Senhorita K. tem um costume antigo. Acordar com a tevê. Desde que tinha de levantar com o frio de -30oC para ir para a faculdade às seis da manhã, ou cinco e meia, Senhorita K. assiste a todos os jornais matutinos. E gosta bastante deles todos.
Quando passou a morar num lugar minimamente próximo da civilização, Senhorita K. manteve o hábito de despertar às 7h, mesmo quando só precisa levantar às 10h. E assim o jornal ora embalava seu sono leve da manhã, ora a despertava em busca de alguma notícia específica, tudo isso no momento mais suave do dia dela, em que sono, luz do dia, cobertor, cabelos embaraçados e o som da tevê se misturavam agradavelmente.
De uns tempos para cá, porém, esse momento de sutileza e alegria matutina tem sido constantemente interrompido por um ruído na programação matinal.
Senhorita K. estava disposta a agüentar pacientemente a interrupção diária, com o simples movimento de abaixar o volume perturbador nos momentos finais do jornal.
Mas aí acontece que a cidade de Brasília resolve que janeiro não é verão. E resolve fazer um frio desolador de 22oC em pleno 29 de janeiro, um dia que deveria ser absolutamente quente e deleitoso, mas que se tornou uma oportunidade irrecusável de “mais dez minutinhos”, “daqui a pouco” e todas as frases do tipo sob o edredon vermelho com as meias vermelhas rajadas de vaquinha e todo o aconchego quente do mundo.
E, nesse clima de frio aconchegante, era impossível ser condescendente com aquela interrupção deselegante e chata da manhã.
Senhorita K. não entende muito bem quanta cafeína Tadeu Schimidt ingere antes de entrar no ar para anunciar os gols da tevê. Ou quanta adrenalina ele descarrega naqueles minutos. Ou quão bom apresentador ele se acha. O fato é que o rapaz entra, sempre, uns 10 tons acima dos outros apresentadores para anunciar os resultados do futebol, e sempre com textos humorísticos.
Ele a desperta com a incômoda sensação de que algo está errado.
Ele está errado.
Fala alto, gesticula, grita mesmo, quando se empolga. Ri dos gols.
Às vezes ela acredita que a vontade dele era ser humorista. Às vezes se conforma com o pensamento de que ele é apenas chato.
Mas Senhorita K., de uns tempos pra cá, perdeu a vontade de ver os gols da noite anterior; perdeu a vontade abrir os olhos para acompanhar o último bloco do jornal; e tem a constante vergonha alheia por ver outro jornalista de Brasília se comportar assim tão indelicadamente na tevê.
Cadê Glória Kalil, alguém responde?

postado por antonina kowalski às 11:14

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