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25.5.08

Dá um chiclete aí? 

Senhorita K. nunca mascou chicletes quando criança. Nem chupou balas. Nem tomou sorvete. Sua avó, oito tias e mãe sempre foram exímias doceiras. Então o doce que alegrava as tardes da pequena Senhorita K. provinha de cocadas caseiras, bombons caseiros, brigadeiros, beijinhos de coco, bolos de chocolate, bolos de laranja e outros acepipes.
Sem contar a fábrica de suspiros no caminho da escola, que provinha os adoçantes industriais necessários ao bom desenvolvimento infantil.
Portanto, Senhorita K. chegou aos onze anos sem nunca ter provado balas, chicletes ou sorvetes. Na verdade, sem nunca ter visto sorvete – e já tendo visto balas e chicletes.
Senhorita K. também chegou aos vinteesete sem nenhuma cárie, mas isso é outra história.
Vem talvez desse conhecimento tardio, impreciso, o fato de Senhorita K. não gostar, até hoje, de sorvete. Ainda se lembra com clareza das saídas vespertinas com as amigas adolescentes à sorveteria. Enchia a taça de bananas, todas as coberturas doces e comia, alheia a todos os flocos, cremes, morangos, chocolates, limões, pistaches que a vitrine oferecia e que, embora Senhorita K. achasse lindo, não gostava.
A mesma coisa foi com as balas. Senhorita K. nunca comprou montes de encher a mão de setebelos, nem nunca as aceitou quando eram oferecidas. Assim como todas as outras balinhas coloridas, divertidas que vinham com escritos bonitinhos dentro, pra guardar na agenda no dia que o menino-de-quem-ela-gostava ofereceu a bala (Senhorita K. aceitava, dava a bala pra amiga e guardava o papel).
Mas com os chicletes foi diferente. Senhorita K. passou a escola e as faculdades recusando, igualmente, os plocs, babalus e outros mais que lhe eram oferecidos. Mas um dia, Senhorita K. resolveu ir passear em São Paulo para, em tese, nunca mais voltar. E aí, no avião, ela descobriu como um chiclete era bom. Ela voou a vida toda, mas só depois de grande o ouvido começou a doer desesperadamente.
Foi a descoberta do século para ela. O trident.
O trident capaz de ser mastigado na subida e na descida. E na chegada e na partida. Nos dias e nas tardes que se seguiam aos dois eventos.
E Senhorita K. virou uma ávida mascadora de chicletes. Ela até tem chicletes a ofercer, nesta nova fase da vida. Mas não qualquer um. Só vale trident. E, de preferência, trident vermelho ou rosa, desses de criança. Só não vale o de canela, que Senhorita K. ainda quer viver alguns anos.
Talvez ela esteja tentando recuperar toda uma infância perdida sem chicletes. Talvez ela só queira estragar os dentes. É um enigma.

postado por antonina kowalski às 16:47

1dizem por aí:

At 28/5/08 08:10, Blogger Roberto B. disse...

Trident não tem açúcar, e protege os dentes! Tá até escrito na embalagem!!!

 

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