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5.6.08

tão bonito que parece quadro 

Brasília tem um pordosol tão, mas tão bonito, que quase faz acreditar que deus existe. Mais um pouco, e Senhorita K. seria uma moça de fé todos os dias entre as cinco e as seis e meia da tarde.
O pordosol de Brasília tem a capacidade terapêutica de fazê-la sorrir quando sai do trabalho no horário de verão e ainda há púrpura, laranja, azul tudo misturado na despedida do dia chegada da noite.
A capacidade tranqüilizadora de fazê-la relaxar num dia ameaçador no trabalho.
O pordosol multicor em tons pastéis tem a rara capacidade, compartilhada por poucas coisas como o quindim ou o algodãodoce ou as girafas, de deixar Senhorita K. de humor vermelho num dia de humor azul acinzentado.
Hoje, Senhorita K. estava observando o pordosol da varanda.
Um daqueles em degradês de corderosa, iluminados, carregados de felicidade e deleite estético.
Um moço do trabalho compartilha da contemplação com Senhorita K. e comenta que o céu parece feito de pinceladas.
E Senhorita K. se lembra de como sempre achou engraçado que a beleza da vida real é sempre comparada à beleza de uma agradável tela em tinta a óleo.
Se lembra de como, sempre que alguma coisa na vida real e palpável e nem sempre muito boa e às vezes tremendamente desagradável é memorável, todo mundo a compara a algo que não existe. Um livro, um filme, um quadro.
Em como é mais fácil entender que a vida que não existe e não é vivida encarcerada em páginas, tela ou moldura é mais factível que essa em que as pessoas são obrigadas a existirem.
Em como parece a todos que um dia bonito, um acontecimento feliz, uma frase de efeito, se assemelham muito mais à a arte que à vida de verdade.
Talvez a verdade seja simples, como quase tudo na vida tirando a vida toda. Viver, muitas vezes, traz tantos aborrecimentos, tantas decepções e tão raros momentos incrivelmente felizes e prazerosos que é muito difícil, senão quase impossível, se lembrar mais dos sorrisos que das lágrimas. E é por isso que todo mundo guarda aquela imagem de Monet, aquele filme do Billy Wilder, aquele livro da Adriana Falcão, muito mais doce e embalado na memória, que as felicidades reais e vividas que, de tão implausíveis, parecem inventadas em sonhos.

postado por antonina kowalski às 15:18

1dizem por aí:

At 17/7/08 13:17, Anonymous Anônimo disse...

srta. K tem o apto tudo-em-um mais charmoso da capital candanga, for sure!

 

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