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19.2.07

Sete notas, maestro Zezinho 

Eu não entendo muito de música. Ok, vamos reformular. Entendo pouco ou quase nada de música. O que, é claro, não me impede de gostar imensamente de. Música, aliás, integra meu pequeno e pessoal rol de obsessões. Minhas pequenas obsessões do dia-a-dia, como eu gosto de chamá-las.
Minha maior obsessão com a música é gostar tanto de algumas canções que sou capaz de ouvi-las por meia hora, ininterruptamente. E essas músicas obsessivas raramente são canções felizes. O mais comum é que sejam canções que, por motivos diversos ou motivo algum, me façam chorar.
Mas, como é comum a todo obsessivo, as minhas obsessões têm se refinado há certo tempo. A ponto de, nas minhas canções favoritas, garimpar aquelas que me são mais caras. E dentre as que são mais caras, descobrir quais são os acordes que mais me tocam, emocionam.
Os meus pequenos acordes obsessivos.
E o mais engraçado e original dessa nova obsessão é que algumas canções são só pequenos-acordes. Depois eu nem gosto tanto mais.
É o caso de uma música do Lenine, dentre tantas e tantas que eu adoro, que tem o acorde mais perfeito do mundo e depois fica, fica só muito boa. Mas o acorde me faz querer voltar pro início e ouvir tudo de novo, de novo, de novo.
Como é com a música do Lenine que marca tanto, e tanta saudade, que é linda, e tem lugar na minha prateleira de obsessões imortais, mas que pra completar, ainda tem o melhor início do mundo. Um violão, grave, daqueles que a gente sente reverberar nos pulmões e tem vontade de chorar sabe-se-lá por quê.
Que nem aquela música do Radiohead que começa com um piano tão delicado, que mal te prepara pra o que vem, mas que já é suficiente pra arrepiar melancolicamente qualquer ser vivente entre 22 e 30 anos, e eu me debulho em lágrimas na tarde de segunda-feira de carnaval enquanto escrevo um conto antierótico tomando vinho.

postado por antonina kowalski às 11:20
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14.2.07

Mr. Darcy 

Como não amar mr. Darcy depois disso?


“You bewitched my body and soul”, diz mr. Darcy a Elizabeth Bennet na chuva do interior inglês. E de tudo que já li e reli, estudei, achei que aprendi e desaprendi sobre o amor, essa é a melhor definição. Porque é isso, essa definição de livro que nem consta do original da Jane Austen, que é o amor. Um enfeitiçamento de corpo e alma. Nem precisa dizer que é inexplicável, ainda que todos sejamos capazes de compreender por que Matthew Macfadyen se apaixonou por Keira Knightley e vice-versa (mas não consigamos entender outros tantos amores...).
Não é à toa, acredito, que vejo e revejo quase semanalmente o filme, tão recente, e a cada vez gosto mais, acredito mais. No filme, em Jane Austen e no amor. E nas palavras de mr. Darcy. E infalibilidade de uma declaração de amor sob a chuva inglesa.
O amor nunca seria amor sem nos tomar de assalto a alma. Mas também nunca seria amor se não fosse capaz de nos arrepiar a pele diante do pensamento do outro. O amor é, ele mesmo, como os amantes de Platão, as almas gêmeas separadas à procura um do outro. Na procura do amor, às vezes se esbarra com encanto, às vezes com paixão. Mas o amor é rarefeito, espinhoso, difícil, porque juntar encanto e paixão não é tarefa das mais simples. É de poucos, para poucos. Uma alma gêmea que junta almas gêmeas. Amor metalingüístico.
Sendo de gêmeos, esse amor duplo está sempre em conflito existencial. Ora é mais alma. Ora é mais corpo. Sempre que é alma, é corpo. Mas às vezes, se dá ao luxo de, só podendo ser alma, atiçar também o corpo. E, a isso, alguém chamou desejo. Só não conseguiram nomear ainda um remédio ao desejo que não seja o corpo.

postado por antonina kowalski às 19:58
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7.2.07

Hoje eu tomei capuccino 

Eu sou uma pessoa dessas ditas radicais. Não consigo ver muitos tons de cinza, o que é uma pena, porque brancopreto cansam, às vezes. Hoje me dei conta que sou radical, também, nos meus meios termos. Não gosto muito, por exemplo, de quente. Nem de frio. Eu gosto de morno. E isso explica por que sempre demoro a tomar o capuccino grande pra viagem que peço na lanchonete da Câmara. Explica por que sempre deixo esfriar tempo bastante o chá mate. Explica por que não gosto muito de gelo na cocacola.
Mas explica também, e isso é uma novidade, por que eu não gosto de café. Por que eu não gosto de sorvete.
Nunca gostei de café. Nem de sorvete. Na verdade, se for puxar bem da memória, café e sorvete foram duas coisas incorporadas tardiamente à minha vida. Nunca freqüentaram minha infância, como suspiro, cocada, leite, cocacola, caldo de feijão preto, brigadeiro, gelatina.
Conheci sorvete aos doze, treze anos, já morando em Brasília há muito tempo. Quando provei, não gostei. Achei estranho. Ia às sorveterias com as amigas e enchia o potinho com leite condensado, waffles, cobertura de chocolate e bananas.
Sorvete era bem ruim.
Café eu conheci um pouco antes. Minha mãe tomava e fumava junto. Mas eu, mesma, nunca tinha tomado. Lá pelos nove, dez anos, a avó colocou café no leite, em vez do nescau. Adorei. Mas quando fui tomar o dito puro, alguns anos depois, foi horrível.
Café era bem ruim.
Da primeira vez de um, doeram os dentes. Da primeira vez do outro, queimei a língua.
Da segunda vez que tentei tomar sorvete, esperei derreter e ficar na temperatura ambiente. Detestei. Da segunda vez que tentei tomar café, esperei ficar na temperatura ambiente. Detestei. Nunca soube não tomar café e queimar a língua.
Nem por isso deixo de amar o cheiro de café, especialmente o mais quentinho. Fico com vontade de tomar. Mas café frio é uma heresia.
Sorvete, amo visualmente. Adoro ver sorvetes bonitos, coloridos, misturados. Mas derretidos e não gelados são, também, uma heresia.
Assim, me contento com os mornos meios termos que me cabem e que acomodam minha incapacidade de experienciar devidamente o radical do frio e do quente.
Na verdade, eu sempre achei que deveria ter nascido sob o clima mais morno e meiotermo do mundo, o mediterrâneo. De preferência, numa ilha grega.
Tudo faz parte do mesmo radicalismo. A opção pelo meio termo. Espero acolher outros meiostermos daqui por diante.
***
Sim, hoje eu tomei capuccino. Quente. Queimei a língua.

postado por antonina kowalski às 16:48
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4.2.07

Depois da chuva 

A vida às vezes tem um ritmo próprio que nós não conseguimos acompanhar. Pelo simples fato de que queremos que essa estranha, a vida, siga no mesmo ritmo que nós. Que, convenhamos, temos ritmos cada vez mais estranhos, tamanha é a pressa que aprendemos a ter com bancos trinta horas e slogans de a vida é agora ou a vida é uma contagem regressiva. Maldita publicidade.
Meu ritmo, como o da maioria das pessoas, é diferente do da vida. Da minha, especialmente. Enquanto eu praguejei por dias e semanas por alguma melhora, a vida significativamente me ignorou. No dia em que bati o carro / chorei um pouco / cansei no trabalho, tive uma boa notícia.
No dia seguinte, outra boa notícia.
Notícias que podem, finalmente, colocar o meu ritmo e o da vida em uma sintonia mínima. Pra começar a conversa em 2007, digamos assim.
Mas nada disso, nenhuma dessas coisas concretas, foi páreo para o sinal que eu recebi na sexta à noite. Madrugada, chuva perene na cidade, frio, entrando correndo na portaria. E um louva deus, ali, me olhando. Todo verde, todo sorte pra mim, todo sorrindo pra mim. Era dia dois de fevereiro. Um dia bom.
Um prenúncio de dia bom. E de dias bons a seguir.
Um louva deus.
Lá no Rio costumam chamar de esperança. Mas essa sou só eu.

postado por antonina kowalski às 17:49
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