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22.5.07

O mais preferido 

Meu episódio preferido da turma do Peanuts. Charlie Brown é bom em soletrar. Então, ele acaba finalista do concurso nacional de Spellbound. Hometown, todos os amigos da turma acompanham o progresso do menino, que chega às finais! Falta apenas uma palavra para ele vencer o torneio, e é quando o apresentador dispara que temos a certeza que, sim, dessa vez vai: beagle. Claro que o Minduim vai acertar, afinal é a raça do cão dele. Mas de repente as coisas tomam outro rumo: vemos Charlie titubear diante do microfone, gaguejar, até, finalmente, errar a palavra. Em casa, diante da TV, Lucy revela o desdém e a confiança de que, em algum momento, Charlie botaria tudo a perder anyway. Snoopy fica arrasado. Era a raça dele!
Minduim, prevendo a reação que teria em casa, pára, fica em silêncio, suspira bem junto ao microfone e diz “... que puxa!”. Mas o diz com tal intensidade que esse “que puxa” fica marcado em todo bom assistente de Peanuts.
Charlie tinha o quê?, sete anos, quando diante daquele microfone do concurso nacional de spellbound entendeu que aquela era sua chance. Era seu defining moment. E ele o havia perdido. Aquele menino cabeçudo entendeu antes da puberdade que a vida seria, dali por diante, um exercício diário diante das frustrações inevitáveis que a mediocridade acarreta. Que a vida seria nada mais que suspiros e “que puxas” até o dia em que ele, à maneira de Billy Pilgrim, resolvesse num ato voluntário enlouquecer ou, à maneira de outros tantos, enfiar uma bala na cabeça.
E aí eu me pergunto por que Schultz foi tão cruel em colocar a realidade do futuro distante na frente de um menino de sete anos, para em seguida me perguntar por que nossos pais não fizeram isso conosco antes dos vinte, dos trinta. Pouparia várias sessões de terapia.

postado por antonina kowalski às 06:58
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17.5.07

Longe de casa 

Quando eu saí de casa, achei que estava conquistando minha independência. Até me dar conta que quem lavava minhas roupas era a mamãe; que eu almoçava na mamãe todo fim de semana. Aí descobri como poderia lavar minhas roupas sem depender de mamãe - se continuo lá, é por economia, preguiça e comodismo. Descobri também como queimar uma omelete sozinha, sem ajuda. Se ainda como lá aos domingos, é pela companhia da família.
Aí eu me mudei.
E descobri que minha dependência é muito maior do que eu supunha. Minha dependêndia, quem diria, paterna, é de uma natureza que, provavelmente, nunca será quebrada. A não ser que eu decida nunca mais furar paredes ou pregar quadros na sala. Ou que eu aprenda a usar, sozinha, uma furadeira sem impregnar a parede de furos tortos, ou a pregar um prego sem ter que recorrer ao durex ou a todo o pacote de pregos.
Esse dia está quase tão longe quanto o juízo final - e podemos até especular se algum deles virá.
Posso ter meu dinheiro, minha vida, lavar minhas próprias calcinhas e uma lista de compras feita por mim. Mas está longe o dia de dar meu grito no Ipiranga: mais precisamente, à distância da furadeira e do martelo.

postado por antonina kowalski às 06:50
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15.5.07

Pneu nunca mais! 


Onde eu desligo meu gene?

postado por antonina kowalski às 08:22
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14.5.07

My monk day 

Aluguei um apartamento novo. O segundo apartamento da minha vida dita emancipada. Aí resolvi, já que era mandatório, me mudar. Limpei a casa, comecei a levar os móveis do bloco C para o bloco F, com a ajuda do sr. Pai e do sr. Namorado. Mas aí deu vontade de fazer xixi. E eu lembrei que ainda não tinha limpado o banheiro do novo apartamento, porque não pretendia mudar o banheiro naquele dia.
Droga.
A vontade de ir ao banheiro começou, aos poucos, a apertar. Muito.
Não consegui sequer entrar no banheiro. Me arrepiei só de pensar em sentar na privada imaculadamente branca que alguém já usou antes de mim (!) para aliviar. Até lavar a mão, lavava na pia. A decisão tinha que ser rápida: saí correndo do bloco F, fui até o bloco C, fiz xixi, dei descarga, lavei a mão e voltei. Tudo normal, tudo simples.
Até chegar a hora de escovar os dentes, e eu só conseguir fazer isso fora da pia, porque eu não tinha lavado a pia.
..
Domingo de manhã e a decisão tomada de lavar o banheiro: passei Ajax do teto ao chão. Hum, ainda não dá pra fazer xixi. Passei Veja em tudo, camada dois. Merda, estou ficando apertada e não consigo usar a privada. Nem lavar as mãos. No desespero, untei panos e panos com álcool e limpei, da maçaneta ao chão, o banheiro.
Ok, fiz xixi.
Mas não consegui segurar na maçaneta da porta. Limpei uma, duas, três vezes a dita cuja e ainda não conseguia.
À certa altura da noite, sr. Namorado me flagrou parada na porta do banheiro, segurando um perfex, álcool e um rodo, olhando psicoticamente para o inimigo azulejado que exibia do outro lado do umbral da porta. Na falta de um remédio tarja preta que me dar, ele riu.
...
Faltava um problema: o banho. Sete da manhã da segunda-feira, banho à vista. Impossível pisar no box que eu ainda não esfreguei azulejo por azulejo. Droga. Banho de chinelos. Sem lavar o cabelo pra não demorar muito e não dar intimidade a esse banheiro estranho, alheio, que não é meu mesmo sendo igualzinho, nos detalhes que importam, ao antigo. Menos no pertencimento. Não consigo usar aquele banheiro. Porque as lembranças das pessoas antigas, que não conheci, me assombram a cada segundo. Dormir, só consigo com a porta fechada.
Banho, só de gato.
Xixi, correndo, com nojinho.
E dou graças a deus porque ainda não tive vontade de mais nada nessa casa nova.

postado por antonina kowalski às 12:37
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10.5.07

O morninho e eu 

Tive quatro carros na vida. Estou no quarto. O mais legal até agora. Ele tem ar-condicionado e aquecedor. Moradora de Brasília que sou, filial candanga da modalidade desértica, deveria há tempos ter aderido ao uso incondicional do ar-condicionado (sem trocadilhos) que deixa todos os vidros de janelas fechados no trânsito da hora do almoço, impedindo que moças de peitos grandes fiquem com suadouros na camisa na região inferior dos ditos cujos.
Mas me recuso. Em um ano que vou completar de carro equipado, nunca liguei o ar senão para comprovar que ele existia; rapidamente me arrependi. Já o aquecedor, uso sempre. Hoje mesmo, vim para casa com ele focado no nariz gelado e nas mãos congelantes – faz menos de 25 graus, é frio polar para mim.
Eu sou uma moça a favor do calor. Incondicionalmente. Adoro a sensação de morninho ao se entrar no carro sem abrir nenhum vidro. Cinco segundos de alento para o corpo, um conforto físico, e depois posso abrir as janelas.
Sou uma moça que acredita no conforto da homeotermia, e que acredita que a temperatura do corpo deve sempre ser mantida. Minha temperatura ideal é o morninho; não o pelando não o gelado. Por isso, não bebo café nem tomo sorvete; espero o chá esfriar pra não queimar a língua.
Por acreditar no conforto do corpo, durmo todos os dias de edredom e, se faz frio, de moletom. Só durmo se os pés estão quentinhos; se não estão, meias Puket neles. Sempre levo casaco para o trabalho, porque tem ar-condicionado. E se sinto frio, sub-repticiamente desligo o dito.
Odeio quando meu nariz fica gelado. Porque me dá desconforto.
Odeio pelos arrepiados e pele suada. Gosto da pele quando está morninha.
Quando faz muito frio, não consigo pensar. Cada célula do meu corpo só consegue sentir frio. E nem consegue mandar mensagem nenhuma ao cérebro, que também se ocupa em sentir frio. Se sinto frio, entro em pane. Por isso, quando faz menos de 25 uso casaco de astronauta.
Se chega aos cinco graus, eu choro porque está frio demais. Choro porque está frio demais e porque minhas pernas dóem. Eu tenho tendinite.
Mas, sim, eu também sinto calor. Aí é quando o clima quer me fazer suar. Poderia usar o ar-condicionado nesses dias. Mas nunca uso.
Porque, além do morninho, eu adoro secar meus cabelos ao vento.

postado por antonina kowalski às 20:58
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5.5.07

Seda 

Eu gosto de muitas coisas na vida. Uma das coisas de que mais gosto na vida é da linha de xampus Seda. As pessoas do Elida Hair Institute, em Paris com nome em inglês, realmente entendem de cabelos femininos. Tanto é que lançam um novo xampu por dia com uma nova cor, o mesmo preço e uma nova solução milagrosa para o seu problema capilar, seja ele qual for. São nada menos que 16 variedades de xampus, condicionadores, cremes de pentear e tratamentos para os cabelos. Qualquer mulher sensata e não-careca enlouquece diante da seção-Seda nas Americanas. Além de multicoloridos, os xampus da Seda primam pelos nomes e pelos slogans infalíveis: os lisos são perfeitos, os cachos, comportados, as ondas, marcantes; os loiros são radiantes, os castanhos, intensos, os pretos, luminosos.
Eu adoro xampus Seda. E meus cabelos também. Já tentei todas as variedades com ele. Do Capivida ao Natura, passando por Dove, Johnson, sem sal, Boticário e afins. Mas só funciona o Seda. O mais engraçado é que, no meu cabelo, funciona qualquer Seda, até para cabelos cacheados (...).
Minha questão não é ter os cabelos ajeitadinhos todo o dia e sem parecer um depositório pouco higiênico de óleo instantes depois da lavagem.
Minha questão é: Por que meus cabelos nunca ficam como os das moças das propagandas com o xampu Seda?
Pensei, muito, e muito, sobre isso.
E entendi: as pessoas do Elida Hair Institute ainda têm que aprender a combinar a eficácia dos produtos em um só para que nossos cabelos fiquem como os das moças das propagandas. Por exemplo: eu teria de usar um xampu anti-spoonge, para tirar aquele frizz dos fios superiores; citric fresh, para cabelos oleosos; liso perfeito, para finalmente dispensar a chapinha; pretos luminosos, para manter a cor conseguida com alguns tubos de koleston; queda control, para deixar menos sujo de fios o chão branco da casa; SOS ceramidas, porque toda mulher precisa de Seda Ceramidas; e, finalmente, SOS reparação, porque desde os 12 anos química é o que não falta a esse couro cabeludo.
Depois de muita reflexão, cheguei a duas conclusões: a primeira, é que vou redigir no meu melhor francês um pedido especial às pessoas do Elida Hair Institute: que elas criem um xampu que, ao mesmo tempo, combata os fios rebeles, trate a oleosidade, mantenha o cabelão liso, prolongue a tintura, impeça a queda e proteja da amônia. E, claro, com muitas ceramidas. A segunda conclusão é: enquanto esses longos estudos não chegam ao cabo, vou eu mesma comprar sete tubos de xampu, um tubo vazio e misturar tudo, em partes iguais.
Se não der certo, eu uso peruca.

postado por antonina kowalski às 14:28
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